Todo homem e mulher são únicos, então sua crença deveria ser única também, ninguém deve falar a eles o que fazer. Obviamente não é tão simples como o catolicismo, que é como branco e preto, se você comer dois biscoitos a mais do que você deveria, você vai para o inferno. É um sistema ridículo e infantil em que milhões de pessoas crêem.
Fonte: Cradle Of Filth: Dani Filth explica seu conceito de religião
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Vem aí...
Em breve, o volume 3 estará disponível de forma impressa no site Clube de Autores e em e-book na Amazon! Fiquem atentos!
quarta-feira, 2 de julho de 2014
Capítulo XXX - Enmanuel
Paraíso, cinco anos antes de Cristo.
Em algum lugar no Castelo de Júpiter, no quinto reino celestial, fica o acesso ao Solarium. Exclusivo aos arcanjos, a Fortaleza do Sol, como também é conhecida, é o centro do universo. Uma construção feita inteiramente com material único, tão quente e brilhante como a própria estrela mestra do sistema solar. Tal característica permite apenas que os arcanjos consigam entrar na fortaleza sem serem imediatamente destruídos. Nem mesmo Metatron, o mais antigo e poderoso serafim, é capaz de se aproximar do Solarium sem se ferir.
Era o lugar perfeito para que os arcanjos pudessem confabular sem serem incomodados. Já no salão central, o arcanjo Gabriel encontrou-se com aquele que lhe tinha convocado.
- Enmanuel, meu irmão. - disse o arcanjo de pele morena, olhos verdes e aparência sábia. Gabriel era conhecido como O Mensageiro de Deus, A Força de Deus e diversas outras alcunhas.
- Gabriel. - respondeu o Primogênito. - Que bom que tenha atendido ao meu pedido. E que bom que veio sozinho e não contou para nenhum de nossos outros irmãos.
- Confesso que ainda acho estranho. - desabafou Gabriel. - Você está desaparecido, trancado aqui no Solarium há tanto tempo, desde...
- Desde que eu tive que expulsar nosso irmão. Desde a queda de Lúcifer... - Gabriel viu a tristeza se espalhar pelo rosto do irmão. Enmanuel era o mais pacifista, o mais tranquilo dos arcanjos, avesso a qualquer tipo de violência. Mas também era o mais poderoso, o segundo na escala universal, abaixo apenas do próprio Deus. E foi o único que conseguiu parar Lúcifer e liderar os demais anjos contra uma força de um terço dos demais celestiais do Paraíso que se rebelaram.
- Não foi sua culpa, irmão. - Gabriel tentou consolá-lo. - Lúcifer fez sua escolha, quando quis ser maior que nosso Pai. Ele teve o que merecia, e agora vai pagar por isso até o Altíssimo desperte e o julgue como necessário.
- Não é só ele que está pagando. As almas humanas que ele tem arrastado para seu reino sombrio. - Enmanuel tinha a voz desolada. - Você consegue ver daqui, os castigos que ele inventou? Antigamente, as almas que não mereciam adentrar ao Paraíso eram testadas no Purgatório. Se após um tempo de expiação elas se mostrassem merecedoras, tinham acesso. Se não, voltavam para o fluxo do cosmo e tinham uma nova chance, nascendo novamente, reencarnando. Mas agora Lúcifer arrasta os malignos para seu... Inferno, e lá eles ficam piores do que chegaram. Alguns dominiis dizem que eles estão formando um exército gigantesco com almas corrompidas, novos demônios.
- Esta é a escolha dos próprios humanos, Enmanuel. - respondeu o Mensageiro, convicto. - Este é o preço do livre arbítrio que nosso Pai os concedeu. Cabe a nós apenas orientar para que eles sigam o caminho da luz.
- Mas não percebe? Não estão seguindo! O mundo está cada vez pior, Gabriel. E essa é a desculpa que Miguel precisa para ordenar mais um cataclismo. Ele argumentará que os exércitos de Lúcifer só aumentam com seus novos recrutas, e que o melhor a se fazer será apagar a humanidade e obliterar nosso irmão enquanto pode. Ele nunca concordou com o banimento dele, sempre quis que o executássemos.
- Talvez... - o arcanjo hesitou. - Me perdoe a ousadia, mas talvez ele tenha razão, irmão. Nós mesmos, com nossas escolhas erradas, podemos ter dado a munição para o mal.
- O que quer dizer? Por favor, seja sincero. - Enmanuel pediu, deixando claro em seu tom de voz que não censurava o irmão.
- Enmanuel, quando assinamos o acordo que findou as Guerras Mitológicas, deixamos que os humanos escolhessem a quem cultuar. E nem todo culto ensina que eles devem se comportar de maneira digna o suficiente para merecer o Paraíso. Quando tentamos destruir a civilização com o dilúvio, plantamos um sentimento de ódio pelos celestiais em muitos corações. E quando optamos por expulsar ao invés de destruir Lúcifer, é claro que demos a ele a oportunidade de corromper nossa criação, tudo que fizemos ao lado de Deus.
- Concordo em parte com você, Gabriel. - Enmanuel sorriu. - Mas eu ainda acredito na humanidade, acredito que possamos vencer essa disputa pelas almas... Foi por isso que o chamei aqui. Preciso de sua ajuda.
- Do que precisa?
- Há séculos, sozinho aqui, eu venho pensando nisso. Eu acho que temos que orientar os humanos diretamente. E quando eu digo diretamente, estou sendo literal. Um de nós precisa descer até a Terra e mostrar o caminho correto.
- Não podemos, Enmanuel. - Gabriel retrucou sem pestanejar. - E você deveria saber disso muito bem. Se nos materializarmos, mesmo que consigamos suprimir nossa aura ao máximo, ainda assim a nossa presença é capaz de afetar a realidade e acabar com a alma de qualquer pessoa próxima.
- Eu sei bem disso, mas eu não pretendo apenas me materializar.
- E o que tens em mente? - Gabriel não fazia ideia das intenções do irmão.
- A minha é assumir totalmente a forma humana. Desde a concepção até o nascimento, desde o início até o fim da vida.
- Você... - Gabriel estava pasmo. - Você não pode estar falando sério! Isso nunca foi feito! Eu nem consigo imaginar!
- Eu sei como fazer, e preciso da sua ajuda. Dentre nós, você é especialista em agir no plano astral. Você consegue interagir com as pessoas através dos sonhos. Irei me fundir a você, e tu irás plantar a semente, eu, no ventre de uma mulher. Uma que irei escolher.
- Quer que eu... Quer que eu tenha relações com uma humana através do mundo dos sonhos? - ele começava a duvidar da sanidade do irmão, mesmo sabendo que ele era o mais perfeito entre eles.
- É difícil pedir isso, mas é a única maneira. Além de não poder se relacionar com ela pelo plano físico por causa de sua aura gigante, isso me transformaria em um nefilin, como foram os filhos de Samyaza. Mas a interação direta com ela pelo astral impedirá que a força de sua aura a prejudique. Ou a mate.
- Esse não é o único problema, Enmanuel! - o Mensageiro não estava acreditando no que ouvia. - Se você encarnar totalmente em um corpo mortal desde o ventre de uma mulher, você será mortal! Irá perder grande parte de seus poderes, senão todos! Nenhum anjo nunca fez algo parecido, mas eu sei que você será um simples mortal! E com isso, um dia irá morrer! E se você morrer, eu não sei o que acontecerá com sua alma!
- Eu confio em sua sabedoria, eu também sei disso. - respondeu Enmanuel, com tranquilidade. - Eu tenho vislumbres do futuro, sei o que irá acontecer, e estou convencido que é o certo.
- E o que Miguel fará quando descobrir? Só a sua presença no Paraíso o mantêm sob controle. Se você for, tudo ficará sob o governo dele, já que ele é o segundo filho. O que o impedirá de matar seu corpo mortal? Ele nunca lhe perdoou pelo acordo com os deuses pagãos ou por ter poupado a vida de Lúcifer. O que o impedirá também de convencer Uriel mais uma vez a causar uma hecatombe que destrua toda a raça humana?
- Nossa irmã caçula está diferente. - Enmanuel disse, com confiança. - Ela não será mais persuadida pela fúria de Miguel com facilidade. Rafael segue a mesma linha de pensamento que a minha, mas ele não é o mais indicado para me ajudar. Apenas você pode, Gabriel, e eu sei que vai.
- É claro que sabe... Tudo bem. - finalmente capitulou. - Eu aceito. Ainda não considero uma boa ideia, mas aceito. Já tem alguma mulher humana escolhida?
- Sim. Há tempos eu tenho inspirado os profetas humanos a predizerem sobre a minha ida ao mundo mortal. Vou lhe mostrar quem é ela, e faremos o quanto antes. Não há mais tempo a perder.
- Qual é nome dela?
- A chamam de Maria. Uma jovem de Nazaré.
Em algum lugar no Castelo de Júpiter, no quinto reino celestial, fica o acesso ao Solarium. Exclusivo aos arcanjos, a Fortaleza do Sol, como também é conhecida, é o centro do universo. Uma construção feita inteiramente com material único, tão quente e brilhante como a própria estrela mestra do sistema solar. Tal característica permite apenas que os arcanjos consigam entrar na fortaleza sem serem imediatamente destruídos. Nem mesmo Metatron, o mais antigo e poderoso serafim, é capaz de se aproximar do Solarium sem se ferir.
Era o lugar perfeito para que os arcanjos pudessem confabular sem serem incomodados. Já no salão central, o arcanjo Gabriel encontrou-se com aquele que lhe tinha convocado.
- Enmanuel, meu irmão. - disse o arcanjo de pele morena, olhos verdes e aparência sábia. Gabriel era conhecido como O Mensageiro de Deus, A Força de Deus e diversas outras alcunhas.
- Gabriel. - respondeu o Primogênito. - Que bom que tenha atendido ao meu pedido. E que bom que veio sozinho e não contou para nenhum de nossos outros irmãos.
- Confesso que ainda acho estranho. - desabafou Gabriel. - Você está desaparecido, trancado aqui no Solarium há tanto tempo, desde...
- Desde que eu tive que expulsar nosso irmão. Desde a queda de Lúcifer... - Gabriel viu a tristeza se espalhar pelo rosto do irmão. Enmanuel era o mais pacifista, o mais tranquilo dos arcanjos, avesso a qualquer tipo de violência. Mas também era o mais poderoso, o segundo na escala universal, abaixo apenas do próprio Deus. E foi o único que conseguiu parar Lúcifer e liderar os demais anjos contra uma força de um terço dos demais celestiais do Paraíso que se rebelaram.
- Não foi sua culpa, irmão. - Gabriel tentou consolá-lo. - Lúcifer fez sua escolha, quando quis ser maior que nosso Pai. Ele teve o que merecia, e agora vai pagar por isso até o Altíssimo desperte e o julgue como necessário.
- Não é só ele que está pagando. As almas humanas que ele tem arrastado para seu reino sombrio. - Enmanuel tinha a voz desolada. - Você consegue ver daqui, os castigos que ele inventou? Antigamente, as almas que não mereciam adentrar ao Paraíso eram testadas no Purgatório. Se após um tempo de expiação elas se mostrassem merecedoras, tinham acesso. Se não, voltavam para o fluxo do cosmo e tinham uma nova chance, nascendo novamente, reencarnando. Mas agora Lúcifer arrasta os malignos para seu... Inferno, e lá eles ficam piores do que chegaram. Alguns dominiis dizem que eles estão formando um exército gigantesco com almas corrompidas, novos demônios.
- Esta é a escolha dos próprios humanos, Enmanuel. - respondeu o Mensageiro, convicto. - Este é o preço do livre arbítrio que nosso Pai os concedeu. Cabe a nós apenas orientar para que eles sigam o caminho da luz.
- Mas não percebe? Não estão seguindo! O mundo está cada vez pior, Gabriel. E essa é a desculpa que Miguel precisa para ordenar mais um cataclismo. Ele argumentará que os exércitos de Lúcifer só aumentam com seus novos recrutas, e que o melhor a se fazer será apagar a humanidade e obliterar nosso irmão enquanto pode. Ele nunca concordou com o banimento dele, sempre quis que o executássemos.
- Talvez... - o arcanjo hesitou. - Me perdoe a ousadia, mas talvez ele tenha razão, irmão. Nós mesmos, com nossas escolhas erradas, podemos ter dado a munição para o mal.
- O que quer dizer? Por favor, seja sincero. - Enmanuel pediu, deixando claro em seu tom de voz que não censurava o irmão.
- Enmanuel, quando assinamos o acordo que findou as Guerras Mitológicas, deixamos que os humanos escolhessem a quem cultuar. E nem todo culto ensina que eles devem se comportar de maneira digna o suficiente para merecer o Paraíso. Quando tentamos destruir a civilização com o dilúvio, plantamos um sentimento de ódio pelos celestiais em muitos corações. E quando optamos por expulsar ao invés de destruir Lúcifer, é claro que demos a ele a oportunidade de corromper nossa criação, tudo que fizemos ao lado de Deus.
- Concordo em parte com você, Gabriel. - Enmanuel sorriu. - Mas eu ainda acredito na humanidade, acredito que possamos vencer essa disputa pelas almas... Foi por isso que o chamei aqui. Preciso de sua ajuda.
- Do que precisa?
- Há séculos, sozinho aqui, eu venho pensando nisso. Eu acho que temos que orientar os humanos diretamente. E quando eu digo diretamente, estou sendo literal. Um de nós precisa descer até a Terra e mostrar o caminho correto.
- Não podemos, Enmanuel. - Gabriel retrucou sem pestanejar. - E você deveria saber disso muito bem. Se nos materializarmos, mesmo que consigamos suprimir nossa aura ao máximo, ainda assim a nossa presença é capaz de afetar a realidade e acabar com a alma de qualquer pessoa próxima.
- Eu sei bem disso, mas eu não pretendo apenas me materializar.
- E o que tens em mente? - Gabriel não fazia ideia das intenções do irmão.
- A minha é assumir totalmente a forma humana. Desde a concepção até o nascimento, desde o início até o fim da vida.
- Você... - Gabriel estava pasmo. - Você não pode estar falando sério! Isso nunca foi feito! Eu nem consigo imaginar!
- Eu sei como fazer, e preciso da sua ajuda. Dentre nós, você é especialista em agir no plano astral. Você consegue interagir com as pessoas através dos sonhos. Irei me fundir a você, e tu irás plantar a semente, eu, no ventre de uma mulher. Uma que irei escolher.
- Quer que eu... Quer que eu tenha relações com uma humana através do mundo dos sonhos? - ele começava a duvidar da sanidade do irmão, mesmo sabendo que ele era o mais perfeito entre eles.
- É difícil pedir isso, mas é a única maneira. Além de não poder se relacionar com ela pelo plano físico por causa de sua aura gigante, isso me transformaria em um nefilin, como foram os filhos de Samyaza. Mas a interação direta com ela pelo astral impedirá que a força de sua aura a prejudique. Ou a mate.
- Esse não é o único problema, Enmanuel! - o Mensageiro não estava acreditando no que ouvia. - Se você encarnar totalmente em um corpo mortal desde o ventre de uma mulher, você será mortal! Irá perder grande parte de seus poderes, senão todos! Nenhum anjo nunca fez algo parecido, mas eu sei que você será um simples mortal! E com isso, um dia irá morrer! E se você morrer, eu não sei o que acontecerá com sua alma!
- Eu confio em sua sabedoria, eu também sei disso. - respondeu Enmanuel, com tranquilidade. - Eu tenho vislumbres do futuro, sei o que irá acontecer, e estou convencido que é o certo.
- E o que Miguel fará quando descobrir? Só a sua presença no Paraíso o mantêm sob controle. Se você for, tudo ficará sob o governo dele, já que ele é o segundo filho. O que o impedirá de matar seu corpo mortal? Ele nunca lhe perdoou pelo acordo com os deuses pagãos ou por ter poupado a vida de Lúcifer. O que o impedirá também de convencer Uriel mais uma vez a causar uma hecatombe que destrua toda a raça humana?
- Nossa irmã caçula está diferente. - Enmanuel disse, com confiança. - Ela não será mais persuadida pela fúria de Miguel com facilidade. Rafael segue a mesma linha de pensamento que a minha, mas ele não é o mais indicado para me ajudar. Apenas você pode, Gabriel, e eu sei que vai.
- É claro que sabe... Tudo bem. - finalmente capitulou. - Eu aceito. Ainda não considero uma boa ideia, mas aceito. Já tem alguma mulher humana escolhida?
- Sim. Há tempos eu tenho inspirado os profetas humanos a predizerem sobre a minha ida ao mundo mortal. Vou lhe mostrar quem é ela, e faremos o quanto antes. Não há mais tempo a perder.
- Qual é nome dela?
- A chamam de Maria. Uma jovem de Nazaré.
sábado, 26 de abril de 2014
sexta-feira, 25 de abril de 2014
Capítulo XX - O Império dos Guardiões
Atlântida,
10 mil anos antes de Cristo.
Sempre
que alguma coisa é criada, dizem que ela evolui para melhor com o
tempo. Por isso, sempre o que é feito por último é feito com mais
carinho, onde as imperfeições são eliminadas e as qualidades,
enaltecidas.
Na
criação do universo não foi diferente. O ser humano, a maior
inspiração de Deus, foi a última espécie viva a ser criada. E
mesmo na criação do homem, primeiro foi feito o macho, e depois, a
fêmea. A mulher, obra mais sublime de Deus. Mesmo entre os arcanjos,
Uriel, a única em forma feminina, foi criada por último antes do
Big Bang que deu origem ao universo. E ela, com seus poderes trans
morfos se torna uma das criaturas mais belas da existência. E com a
mulher humana Deus caprichou mais ainda. A primeira possuidora de
alma, Lilith, de tão perfeita adquiriu soberba e foi expulsa do
Jardim do Éden, sendo capaz de seduzir o arcanjo Lúcifer e ser
responsável pela perdição de Adão e Eva tempos depois. Mas
Lúcifer não foi o único celestial a ser seduzido pela figura
feminina. Durante milhares de anos, vez ou outra, anjos observavam as
humanas e se apaixonavam, formando famílias e criando filhos. Essa
prática era condenada, principalmente por Miguel, que abominava a
humanidade desde que Deus partiu para o descanso no final do sexto
dia da criação. Mas apenas se tornou proibida após o acordo que
findou as Guerras Mitológicas, quando Enmanuel, o arcanjo supremo,
decretou a lei que impedia que qualquer ser superior, anjo ou deus
pagão, copulasse e gerasse filhos em mulheres mortais.
Mas
como em toda lei, sempre há alguém para burlar. Samyaza, um
valoroso serafim da casta virtutes, estava sempre perambulando pela
Terra ou plano astral, orientando as almas perdidas e ensinando as
pessoas a amarem a Deus e ao próximo. Mas quando ele conheceu uma
bela e bondosa mulher dos desertos árabes, seu coração caiu em
enorme tentação. Não resistindo, ele descumpriu a lei celestial e
formou uma família, incentivando vários seguidores, serafins e
querubins das mais diferentes castas a fazer o mesmo. Para eles,
aquele era o maior louvor que poderiam prestar a Deus,
confraternizando de maneira espiritual e carnal com a sua mais
perfeita criação, a mulher. Para esconderem seus crimes e
protegerem seus filhos, Tamiel, serafim da casta principatus e
poderoso mago celestial, ensinou aos demais anjos a suprimira aura a
ponto de desaparecer do radar celestial, assim como proteger suas
crias, disfarçando seus poderes como magia comum, embora muito mais
poderosa e formidável.
Gerações
se passaram, e os nefilins, como eram chamados os descendentes dos
anjos, fundaram o império de Atlântida. Localizado em uma ilha do
gigantesco mar que seria mais tarde conhecido como oceano Atlântico,
o Império de Atlântida, ou Império dos Guardiões, era de longe a
nação mais avançada do mundo na época. Misturando magia e
tecnologia, os atlantes eram capazes de criar equipamentos e ergueram
cidades não somente nas ilhas, mas colônias em todo o velho
continente ao leste. E assim eles teriam vivido por toda eternidade,
não fosse a sagacidade daquele que era considerado a mente mais
aguçada do universo. De alguma maneira, Lúcifer descobriu o segredo
dos atlantes, e pretendia em breve fazer uma visita ao seu imperador.
*
Sozinho
em seu palácio, admirando a luz do luar banhar seu reino de maneira
esplendorosa, Samyaza observava cada pedaço de terra, planta e
mármore branco de que era feito seu país. Na forma humana, era um
homem loiro de feições másculas, alto e imponente, mas também era
um rei bondoso e adorado pelos súditos. Atravessando o salão
principal de sua morada, que tinha mais de quinhentos metros apenas o
átrio, Samyaza sentiu um abalo no barreira espiritual. Uma aura
imensa se formava, alguma entidade mais poderosa do que ele estava
neste momento passando do astral para o plano físico. Ao olhar para
trás, caiu prostrado de joelhos ante a majestade do visitante.
-
Arcanjo Lúcifer? - perguntou o imperador atlante, ao reconhecer seu
visitante noturno, um anjo de enormes asas brancas e beleza anormal,
de tão divina.
-
Olá, Samyaza. Faz muito tempo desde que nos vimos pela última vez.
- respondeu o Portador da Luz, com sua voz melodiosa.
-
A que devo a honra inenarrável da visita? Se eu soubesse...
-
Não poderia fazer nada. - cortou ele. - Resolvi aparecer quando
todos estão dormindo, porque infelizmente a minha aura é tão
poderosa que desprenderia imediatamente do corpo a alma de qualquer
mortal que se aproximasse, além de queimar seus olhos ante a visão
de minha face perfeita.
Era
verdade, Samyaza pensou. Lúcifer fora benevolente, se aparecesse
durante o dia, perto de sua nova esposa e filhos, todos ficariam
cegos, loucos ou morreriam.
-
Em que posso ser útil, meu senhor?
-
Ah, Samyaza, meu querido... - Lúcifer recolheu as asas e caminhou
pelo salão, admirando o próprio reflexo no chão polido. - Acho que
já imagina porque estou aqui. Ou pensou que ninguém fosse
encontrá-los um dia? Você e todos aqueles que o seguiram cometeram
um crime grave. Violaram um dos termos assinados no acordo que pôs
fim as Guerras Mitológicas, milhares de anos atrás. Lembra-se?
O
coração do atlante acelerou. Era verdade, ele sabia muito bem
disso. E nada poderia fazer, Lúcifer, com todo seu poder de arcanjo,
poderia vaporizá-lo com um só dedo. Samyaza resolveu arriscar uma
outra abordagem, mais ousada que o ataque físico.
-
Pensei que, dentre os celestiais, o senhor entenderia. - Lúcifer o
encarou, fingindo confusão. - A mortal Lilith. A Serpente do Éden,
meus súditos a encontraram para lá do Eufrates. O senhor se
apaixonou e deu a ela os poderes para tentar Eva e Adão, não foi?
Lúcifer
sorriu. Claro que eles tinham encontrado Lilith, ele sabia. Afinal,
ainda a mantinha como amante, escondendo-a em uma fortaleza
igualmente invisível graças a seus poderes. E foi a própria Lilith
que seguiu os atlantes e contou para Lúcifer o que descobrira.
-
Mas eu entendo, meu caro, por isso estou aqui. Acha que se fosse
Miguel, seu amado império já não estaria em chamas? Se ele
descobrir o que se passa, em segundos suas legiões de dominiis
estarão sobrevoando e incendiando cada pedaço desse belíssimo
mármore branco, o que seria um enorme desperdício.
Samyaza
começara a entender. Lúcifer era ardiloso, inteligente e impossível
de ser ludibriado. Na certa ele apareceu ali secretamente, sem mesmo
contar aos demais arcanjos, para propor algum acordo ou exigir algo
em troca de seu silêncio. Mas o que ele, um serafim que agora se
considerava mais humano do que tudo, poderia oferecer à um arcanjo
da magnitude da Estrela da Manhã?
-
O que deseja, milorde? Como posso eu, humilde servo, interceder em
favor de meus súditos, para que eles não enfrentem a injusta fúria
celestial?
Satisfeito
consigo mesmo, Lúcifer revelou sua proposta. Mas, embora já
esperasse, não pode esconder sua decepção ante a negativa de
Samyaza.
-
Meu senhor, eu sinto muito mas não posso. Considero isso impossível,
na verdade, e mesmo que fosse possível, é algo que traria um
transtorno enorme a todo o universo. Além de ser a mais vil das
traições. - ele respondeu, sabendo que estava assinando seu
atestado de morte. Mas era o certo a se fazer.
-
Ora, não me venha falar de traição! - Lúcifer ficou indignado,
mas não libertou sua aura, temendo desintegrar o palácio. - Ah,
Samyaza, eu tenho virtudes e defeitos. Mas se tem uma coisa que eu
não muito, é ser paciente. Sou justo, sou o patrono dos anjos
juízes, e não vejo escolha a não ser evocar a lei. Tentei propor
um acordo, mas você cuspiu em minha mão amiga. Eu sinto muito. - e
desapareceu, levando com ele a esperança de um futuro para
Atlântida.
Tempos
depois, uma tempestade torrencial castigou o mundo, junto com o
derretimento dos polos glaciais e maremotos com dezenas de metros de
altura. Ao mesmo tempo, o arcanjo Miguel, furioso mas ao mesmo tempo
satisfeito, agrilhoava no topo do Palácio de Pérola tanto Samyaza
quanto seu séquito de derrotados.
-
Contemplem! - disse ele, erguendo o queixo do imperador atlante e o
obrigando a olhar para seu reino em chamas, enquanto uma tsunami
colossal se aproximava. - Esse é o destino dos traidores. Mas pior
do que um traidor, é um fraco! Todos morrerão! Seus filhos, netos e
todos aqueles frutos de sua relação fraca com essas descendentes de
macacos! Mas não só eles, todos esses indignos perecerão,
afogados! E eu provarei à Enmanuel e Rafael que eles estão errados,
o tal de Noé e sua família não sobreviverão em um mundo vazio!
Contemple o seu império afundar, Samyaza!
E
assim, após catástrofes, maremotos e tsunamis, Atlântida foi para
o fundo do oceano e nunca mais emergiu.
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